Cão foragido. “Ouviu dizer, vizinha? Há um criminoso á solta”. “Um assassino”. Cochichavam as comadres no alpendre. A segurança da pequena cidade de Soul City fora reforçada. Na noite passada foi encontrada uma mulher com as vísceras à mostra. Quem viu disse que foi horrível. Uma mulher que ouviu os gritos estava em estado de choque. Por muito pouco não enlouquecera. Estática numa poltrona, os olhos esbugalhados, como quem acabou de ver um fantasma. “Pena a única testemunhar estar nesse estado lastimável”, comentou o policial. O detetive encarregado não sabia por onde começar. Havia uma poça de sangue no local. O corpo do defunto, mutilado. Com mordidas em lugares inusitados. Seria um cão? Cada caso que parava em suas mãos... Não via a hora de se aposentar. Sua vida era posta em risco em cada trabalho, sentia-se um gato com várias vidas.
Toda a cidade estava em polvoroso. Temiam por morarem numa cidadezinha de interior e sem muita segurança. Foi estipulado o “toque de recolher” às dezoito horas. Enfurnados em casa, não podiam fazer outra coisa senão rezarem para que os espíritos ruins fossem embora.
O defunto passava por uma investigação meticulosa. Haviam mordidas nas pernas, nos braços, no rosto, entre as cochas, e a maior incidência de mordidas estava no pescoço. “Que maluco faria uma coisa dessas?”, comentou um perito da policia. “Alguém querendo aparecer. Aterrorizar essa cidade pacata”, disse o investigador com uma ponta de repulsa por aquele corpo quase completamente dilacerado. Ainda não tinha estômago para isso.
O detetive em seu gabinete, ponderava. Examinava as provas, os relatórios e tudo quanto fosse prova de incriminação. Mas não havia suspeito algum para incriminar. “Como pode um maníaco desse timbre numa cidadezinha do sul?”.
O detetive em seu gabinete, ponderava. Examinava as provas, os relatórios e tudo quanto fosse prova de incriminação. Mas não havia suspeito algum para incriminar. “Como pode um maníaco desse timbre numa cidadezinha do sul?”.
Imagem: Master_Passion_Greed_by_raindancewolf