Entrou na propriedade da Senhora Oliveira. Detetives tinham de ser sorrateiros. Convinha ser. Se lhe pegassem adentrando uma propriedade alheia sem um mandato seria expulso? O risco fora calculado. Para sua sorte, o cachorro da família estava dentro de casa. Agachou embaixo de uma janela aberta. Ouviu a conversa:
- O que Alex está fazendo?! Está atrasado! – disse Sra Oliveira.
“Mas... como? Uma senhora tão decente...”.
- Sra Oliveira acalme-se, seu filho já estará em casa... – a empregada falou apreensiva. “Alex...?”.
Ouvem-se o barulho da porta sendo aberta.
- Ah, você está bem... – Sra Oliveira, aliviada, o abraçou.
- Pára com isso, mãe... Sem pieguismo barato... – disse sem muito jeito. Não guardava muitos afetos.
“Mãe e filho...”.
- Fez o que lhe pediram?
- Sim, está feito...
“Está feito...? Sabia que estavam ligados à máfia...”.
- Mãe, assuntos desse tipo não devem ser discutidos em casa. O Gringo William nos avisou sobre isso...
“Não...” – fechou o pulso - “Estive tão próximo de conseguir uma pista...”.
Contive-me para não sair gritando “Estão presos!” como fazem os policiais dos filmes. Causaria um tumulto sem igual. Na volta, pensei de estômago vazio, juntei as peças e as coloquei na mesa. As cartas seriam lidas pela cartomante imaginária e as respostas viriam. Eu, a cartomante, o fantasma, o detetive, a chave só poderia estar comigo. Policiais dependem de mim...
Smith foi dormir com enxaqueca de tanto pensar. Achara uma solução e a anotara em um bloquinho. Deixou-o na escrivaninha e adormeceu. As pálpebras pediam um descanso.
...
- Alex, onde vai? – quis saber a mãe apreensiva. Que fosse um delinquente, mas que tomasse cuidado.
- Vou sair para espairecer a cachola – disse com um cigarro na boca.
...
Uma nuvem azul surge no quarto do detetive. Ninfas se aproximavam querendo abraçá-lo... Não eram anjos? Onde estou? No céu, disse uma delas.
...
Smith acorda e se dá conta das suas mãos atadas. Não soube se saira de um sonho para entrar em um pesadelo...
- A princesa acordou...
- O que fez com a minha família?!
- Sua família está bem. Meu problema é com você! – pegou uma cadeira e sentou de frente ao detetive, com um isqueiro na mão. Acendia e o apagava. Fingindo queimar o sequestrado.
- Como é estar do lado daí? Ser a vítima...
O detetive nada respondeu.
- Tratamento VIP para o melhor detetive dessas bandas! Quem mandou meter o nariz em assuntos alheios! - disse com uma alteração na voz – Notei sua presença ainda há pouco, nos arredores da propriedade do meu pai.