Os olhos acompanhavam o percurso escuro. As roupas funestas, pessoas com semblantes fatigados. Não sabia dizer se a dor que lhe apertava o peito era física ou imaginária. Dor da mesma forma, só não sabia precisar a espécie. O modo, a medida, a duração. Os globos oculares, antes tão viços, agora chorosos e distantes. Ah, era uma vida que se ia... E que levava a sua com ela... Apagando aos poucos... Dor que não iria embora. Um dia passa. O tempo acariciava seus longos cabelos, consolando-a.
Será só mais uma entre os solitários a procura de um preenchimento para o coração. Uma carência em busca de um suprimento. Sem vias de se acabar, cambaleava sob a égide da razão. As mãos entre as da ilusão, o mesmo material de que fora feita. Durante tanto tempo que nem sabia mais... Ectoplasma, ilusão... De quem era o velório mesmo? Do que se trata esse ritual fúnebre? Suas recordações. Seu eu antigo, aquele medroso, renegado, e fora dos padrões... Seria morto. Imaginara todo um ritual de passagem. De renovação, de feitos valorosos. Um outro eu. Um eu melhor, supusera que fosse. Tinha de ser. Chorara tanto para enterrar o anterior que nenhuma lágrima sobrara para comemorar a sua aliança com a solidão, com um eu que se transformava em grifo. Forte, monstro, besta, mas, estranhamente, seu. Era ela em plenitude. Se era para ser um monstro, feio e esfacelado, que fosse como os grifos. Criaturas mitológicas, altivas, patas de felinos, bichos de rapina. Pássaro felino. Instintos de quem não queria ser domada, que se encontrava na mais alta montanha. Para sempre, reclusa dos outros. Seres humanos me são estranhos. Não pertenço a essa espécie. Não me querem lá. Sou um desvio, paradigma quebrado. Estilhaços de um espelho. Renunciara a própria imagem. Metamorfose da lagarta em... Eterna incógnita. O que seria no final? Sabia o que almejava ser. Grifo... Grito, GRRR!
P.S.: texto estranho... Desculpem por isso. Mas, esse “Grifo, Grito, GRRR!” poderia dar um poema...^^
Imagem: sad_sad_sad_by_Queer84