A história de FLCL (ou como é conhecido, Furi-Kuri) começa com Naota na beira de um rio, em um diálogo com Mamimi Samejima,ex-namorada de seu irmão. Quando, de súbito, ao voltar pra casa, uma mulher numa vespa o atropela (Esteja preparado para cenas de ação e totalmente malucas nesse animê). Naota observa que ganhou um galo na cabeça depois do acidente. O que o menino conclui? A culpada é a mulher-vespa. A alienígena declarada, Haruko (a mulher-vespa) se instala na casa de Naota como "empregada"
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Tem até um rôbo fazendo os trabalhos domésticos? |
A obra
FLCL foi produzido pela Gainax juntamente com o Production IG. Criada por Kazuya Tsurumaki, a série foi exibida em 2000. E "foi originalmente publicada no formato OVA em seis DVDs no ano de 2000. A história também foi publicada em dois volumes de mangá pelo artista Hajime Ueda, e em um romance de três volumes por Yoji Enokido (que também escreveu o script do anime) [2]" A série teve a contribuição de várias diretores. Dentre eles,Kazuya Tsurumaki (Series Director) Masahiko Otsuka (eps 1, 4, 6) Shouji Saeki (eps 3, 5) Takeshi Ando (ep 2). Presumiremos que, com um time de talentosos profissionais, o animê teria que ser um sucesso. Quer saber a minha opinião? Ele foi muito bem produzido. A trilha sonora é agradável. Todas as músicas tocadas nos episódios são da banda de J-rock, The Pillows. Que, por sinal, lembra muito o rock tradicional britânico. Por que eu falei da trilha sonora? Porque ela completa toda as cenas de ação da série, e por não ser música pop (genérica nos animês). Quanto à animação, deve ser assistida na melhor resolução possível.
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As cenas de luta são muito boas. |
"Nada extraordinário acontece aqui. Somente coisas comuns"
É a frase que o Naota fala no início do primeiro episódio. Sim, ele é um garoto com aquele ar de gente grande. Que não vê nada de novo acontecer. FLCL, não se trata do "pai dos animês sem sentido",como muitos o tem classificado. Apenas, leiamos o que Marcelo R. Goto disse em 2000, na revista AnimeDo:
Quem visitar o site da Gainax e ler os comentários da equipe responsável por FLCL vai encontrar mais de uma vez expressões como "animação para o novo milênio' e "romper com as tradições da animação".Por aí já dá pra notar que a ambição não era pouca com esta nova série: a Gainax pretendia criar um animê que fosse a cara do século XXI...antes mesmo dele começar[...] Se Evangelion começou com uma história quase típica de ficção científica/rôbos gigantes e terminou desmontando todas as convenções desse gênero,reinventando a narrativa nos animês, FLCL parece seguir o trajeto contrário. As coisas vagam sem rumo por três episódios, e só na segunda metade da série a verdadeira trama começa a se revelar[3]"
Não entrarei em comparações. Mas, para introduzir esse assunto eu teria que pôr a referência de quem assistiu no ano em que foi lançado. Talvez, na época de ouro da Gainax (graças a uma boa equipe de profissionais). Embora, eu tenha feito muitas voltas nessa análise, estamos onde eu queria chegar. Leitor, você já ouviu falar no Superflat? Felizmente, Lancaster, definiu o termo (e eu não poderia colocá-lo em melhores palavras):
De uma forma simples: O Superflat é um movimento estético pós-moderno que surgiu dentro das artes plásticas e que encontrou eco nos mangás e nas animações – até porque seu pressuposto é de que a cultura dos animes e mangás é a cultura japonesa de nosso tempo. Ele se vale dos elementos de fetiche que caracterizam os animes e mangás dentro da cultura otaku para questionar o contexto social que deu origem aos mesmos fetiches. Ou melhor dizendo, ele reprocessa esses elementos para devolvê-los desconstruídos para aqueles que os consomem originalmente[...] O pós-modernismo é um movimento com várias correntes e sem uma proposta unificada, salvo na sua crítica ao modelo tradicional de racionalismo nas artes, na literatura e nas ciências.[4].
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Arte de Takashi Murakami |
O termo superflat significa "super achatado", e foi concebido pelo artista plástico Takashi Murakami. Como Lancaster já falou, o superflat pega os símbolos de fetiche (daí você pode pensar em todos os exemplos génericos de animês) e os devolve destruídos (só eu lembrei do superflat com Madoka Mágica?). O movimento era uma forma de crítica ao "achatamento"da cultura. E atacava,basicamente, a cultura otaku.
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Parte do mangá de FLCL. |
O que diabos quer dizer "otaku"?,alguém perguntará. A palavra, na sua origem, tem um signifcado diferente daquele adquirido no ocidente. Kauê, do blog Otakismo,diz que
Os otaku seriam a primeira geração de Homo Virtuens, seres gerados no fim dos anos 70 e início dos anos 80 no Japão, em pleno auge da prosperidade econômica, embalados pela asfixiante atmosfera de consumo, educação e informação em demasia. Refugiaram-se na fantasia, "superalimentados por imagens propostas pela mídia". Uma descrição precisa existe no prefácio do livro: "Rebelde desertor, o otaku utiliza nosso mundo sem dele fazer parte.". Vivendo em sua bolha pessoal, o otaku ignora as relações interpessoais, retarda sua entrada na vida adulta e no mercado de trabalho e se relaciona com fantasias do universo bidimensial, sejam as graciosas meninas de nanquim, seja a inatingível cantora pop pixelada na televisão.[...]. Fato que ele foi cunhado em 1983 pelo ensaísta Nakamori Akio. [...]Remete tanto ao termo habitação (isolamento) quanto a um tratamento impessoal de distanciamento dos japoneses (falta de conectividade social). Hoje o termo é aceito publicamente no Japão para definir qualquer pessoa que tenha uma mania qualquer, usualmente associado com coleções. Alguém que colecione selos compulsivamente é um otaku. Mas geralmente quem faz isso são aqueles que conhecemos como otaku. Colecionam milhares de mangás, animes gravados em formatos de mídia diversos, artigos colecionáveis dos seus personagens favoritos, jogos etc.[5].
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Parte do mangá de FLCL |
FLCL critica a cultura otaku de uma forma sutil. Desde a garota que é obcecada por video games, e fuma à beira do rio, ao menino que acha a cidade em que mora entediante.Ou, até mesmo, no fato de acontecimentos fora do padrão serem pouco percebidos. Rôbos aparecem e ninguém fica surpreso? Quem assistiu pode entender agora o que a Haruko estava querendo dizer com:"Não tem nada mais que um monte de lixo saindo da sua cabeça".
Referências:
- ANIMENEWSNETWORK. FLCL
- Wikipédia. FLCL
- AnimeDo2000.N°10. FLCL
- Maximum Cosmo.Superflat: A Reação do Pós-Modernismo Japonês ao "Boom" Otaku
- Blog Otakismo: Homo Virtuens, o surgimento do fenômeno otaku
- Sobre FLCL : Animê (AQUI .Ou no formato avi, pelo Torrent AQUI,as legendas em PT/BR