Eu poderia começar essa história pelo conhecido “era uma vez”. Mas, acho o termo "batido" e desnecessário. Basta dizer que em uma determinada tarde, dois amigos confabulavam.
...
Felipe deitado, com o controle na mão mudava de canal a cada dois minutos. Revistas em quadrinhos, cards e folhas de caderno espalhados no chão, na mesa, na cama, na cadeira.
- Só na manha... - Bruno aparece na porta do quarto, encosta-se ao batente.
- Nada. Estava caçando meu jogo de God of War 2.
- Sei... e pelo visto não encontrou.
- Encontrei poeira, provas da escola e meus mangás.
- Hey, eu quero aquele! – Bruno aponta para o último volume de Death Note.
- Pode pegar.
- Já que você não está fazendo nada... Pode me ajudar com uma coisa?
- Lá vem a facada... Se for dinheiro, vou logo dizendo...
- Não é dinheiro. Estou escrevendo uma história.
- Ah, eu sei, é aquela sobre um mundo paralelo à Terra?
- É, essa mesma.
- Hmm – Felipe finge que se importa.
Bruno entende de cara.
- Você não leu, né?
Felipe fez que não com um leve meneio de cabeça. Sentiu vergonha por não ter lido. Não por falta de consideração, só que...
- Por que você não leu? – Bruno perguntou indignado.
- Não tenho paciência para ler textos longos no computador... Foi mal, cara.
- Da próxima vez eu imprimo pra você – o olhar de Bruno foi fuzilante.
- Trégua. Trégua – Felipe pegou uma toalha e acenou em sinal de rendimento – O que você quer que eu faça? Já pedi desculpa.
- Eu não sei se “foi mal” é uma desculpa decente. Mas, ainda pode se redimir, SE me ajudar com a história.
Felipe riu, achou divertido. Cruzou os braços e se preparou para ouvir o que Bruno havia escrito.
- Tá. É assim que começa o terceiro episódio:
“A nebulosa de Órion se aproximava de nossa nave. Enquanto o capitão Gregory checava as coordenadas íamos em direção ao nosso fim. Era um destino trágico para nossa jovem tribulação. Diego, nosso mecânico, morreu depois de ter contraído uma gripe tropical. Por que havíamos ido para a Terra onde só existia hostilidade e doenças? 10.000 anos após a Grande Guerra, só o que havia eram tribos nômades. Voltaram ao seu estado primitivo. Homens das cavernas – era como os chamávamos em nosso rancor. A segunda tenente contraíra uma gripe que agora avançava para uma tuberculose. Nossos medicamentos iam sendo consumidos. Todos os dias um cadete caia convalescente. Depois sem vida. Embalsamamos os corpos para evitar o odor fúnebre”.
- Para aí, Bruno. O que houve? Da ultima vez eles estavam navegando alegremente pelos campos da idílica terra do paraíso.
- Se tivesse lido o capitulo dois, você saberia que ambos os mundos entraram em um colapso político-civil porque os habitantes da terra precisavam de água potável. A água havia se tornado um bem raro.
- Hmmm... Sei... Tinha robôs gigantes soltando raios lasers pelos olhos?
- Sim, tinha robôs gigantes. E eles tinham uma arma de grande alcance...
- Que soltava raios lasers provocando grande destruição?
- Não. Eles atiravam uma bolha na qual os humanos ficavam presos, inconscientes.
- E os humanos ficavam presos em casulos para depois serem usados como fonte de energia para os extraterrestres invasores?
- Não! De onde você tira essas coisas? Tá, deixa eu explicar: para evitar que a grande guerra se prolongasse,os habitantes da terra do paraíso colocaram os humanos em bolhas orgânicas.
- Como em um grande útero...
- Isso mesmo... Como em um grande útero, eles...
- Aguardavam a hora de renascerem com seus corpos cintilantes, com super poderes e mecanismo robótico.
- Na verdade, o objetivo era, basicamente, mantê-los a salvo enquanto a terra fosse reconstruída...
- Mas, isso poderia durar anos!
- Poderia, se o povo da terra do paraíso não tivesse tecnologia e recursos para acelerar o crescimento da flora local, garantindo o pouco que ainda sobrava de vida no planeta.
- E quanto à escassez de água?
- Essa parte ainda não desenvolvi. Pensei no compartilhamento da água. Ela seria levada para o outro planeta em grandes tanques...
- Não, Bruno. A água não pode ser retirada de um planeta para outro. A solução seria fazer sedes para o tratamento da água. Você não disse que o povo desse planeta idílico tinha tecnologia e recursos?
- Pode ser... – Bruno deu ima olhada na história – a gente pode discutir esse capitulo outra hora?
- Por quê? Agora que estava ficando legal...
- Tenho que adicionar a sua sugestão no capítulo dois.
- Viu? Acabei ajudando mesmo sem ter lido.
- Dessa vez Bruno teve que engolir o orgulho e concordar. Juntou o roteiro da história e se despediu. Felipe ainda acrescentou, antes do amigo sair:
- Da próxima vez coloca uns robôs com raios lasers.
CONTINUA. AGUARDE O PRÓXIMO EPISÓDIO.