Quantcast
Channel: Não tem pão
Viewing all articles
Browse latest Browse all 442

A Visitante - Parte 3

$
0
0
Dois dias depois da misteriosa morte de Dona Geisy tudo, aparentemente, estava voltando ao normal. Depois da escola, os garotos da rua se reuniam numa lanchonete, próxima à escola. Naquele dia, a lanchonete estava mais agitada do que o normal, tudo por causa de uma fotografia. Geferson, como todo adolescente de 16 anos, ficava se gabando da que havia tirado da finada.
- Caramba, tu tem coragem, hein. Dizia um de seus amigos. – Eu tenho medo dessas coisas. Murmurava outra.
- Ah! Que nada. A gente tem que ter medo é dos vivos, não dos mortos - falou incrédulo.
- É estranha a careta dela. Parece que ela morreu de um grande susto - disse Denise, mais uma curiosa.
- Em tese, você tem razão - disse Sophia apontando para Geferson.
- Lá vem você, Carla - disse ele.
Sophia era uma garota que não chamava tanta atenção. Era pálida, cabelos negros, olheiras que mais pareciam que nunca dormia. Quase uma Vandinha da Família Adams. Não tinha muitos amigos, talvez nenhum. As pessoas não se aproximavam tanto, por causa de sua mãe que tinha problemas com bebidas, e que geralmente falava sozinha depois de cada gole. A aparência e estilo gótico da menina também não ajudava a se inteirar socialmente.
- Nem sei porque ainda me dou ao trabalho de tentar falar com vocês - continuou
Ela falava de maneira calma, apesar da irritação causada pela dúvida.
- Não é isso - continuou Geferson. – Quero dizer, até acredito em você depois da história que Denis e Rafael me contaram.
- Vixe. Tu acreditou mesmo que alguém falou com eles naquele sábado que faltou energia? Não se passou na tua cabeça que poderia ser a mãe deles? - disse Denise Incrédula.
- Eu já disse, a Dona Giselda estava na frente da sua casa, conversando com a minha mãe na hora do acontecido - rebateu – Além do mais, a mensagem que Dona Geisy estava segurando foi exatamente o que disseram pra eles naquele dia. Estranho,não?
- Eles inventaram isso, com certeza. E você caiu como um patinho.
- Você não sabe o que fala - disse Sophia encarando Denise, que ficou pasma com o olhar da “amiga”.
- Okay, meninas. Chega, né? Deixemos isso pra lá - amenizou Geferson.
Sophia continuava fixada em Denise. Para uma garota que lia livros de bruxaria e frequentava o cemitério local à noite, ela tratava da morte como se fosse algo sagrado. Denise, agora mais assustada com a fixação de sua predadora, pediu licença e foi até o banheiro. Sophia voltou a sua mesa solitária, sentou e tomou seu suco de beterraba.
- Essa garota, ela me causa arrepios - disse Donizete depois de trazer o X-Salada de Geferson, e o Misto quente de Denise junto com as bebidas. Ele estudava com eles e trabalhava meio período na lanchonete.
A calmaria cessou depois de ouvirem um grito vindo do banheiro feminino. Geferson correu até lá seguido de Donizete e alguns curiosos. Ao entrarem Geferson e Donizete repararam que Denise estava sentada no chão segurando os joelhos e de cabeça baixa. Ela mexia o corpo como se estivesse se embalando. Geferson sussurrou seu nome, e ela levantou a cabeça. Quase fez Geferson e Donizete caírem de bunda no chão. Seus olhos estavam turvos, pareciam ter perdido a cor, e de fato, ela perdera. As lágrimas desciam, mas, ela não processava uma palavra sequer, nenhum som. Ela apontou em direção ao espelho para que olhassem. Geferson, Donizete e os outros que chegaram depois, quase gritaram. O espelho parecia ter se tornado um retrato. Nele, a imagem que aparecera era perturbadora. Uma mulher de vestido preto e sujo de terra, segurava numa das mãos dois globos oculares e na outra uma língua, ambos, pareciam terem sido arrancados. Denise soluçou e começou a chorar novamente. Curiosamente, a mulher que apareceu no espelho só podia ser vista do pescoço para baixo.
- Eu disse que ela não sabia do que falava - responde Sophia aparecendo, repentinamente, no banheiro.



Viewing all articles
Browse latest Browse all 442

Trending Articles